El vino da brillantez a las campiñas, exalta los corazones, enciende las pupilas y enseña a los pies la danza. José Ortega y Gasset (1883-1955).

sábado, 3 de dezembro de 2011

O arroz com linguiça e seus vinhos



Vulgarmente conhecido como Arroz de China, versão putanesca do Arroz de Carreteiro, é uma especialidade da culinária tradicional do Rio Grande do Sul. Rápido de fazer, o modo de preparar é muito simples e fácil, resultando, normalmente, em pratos nutritivos e saborosos, uma grande salvação em momentos de aperto ou de fome. Leva linguiça e leva arroz, obviamente. A linguiça pode ser grossa ou pode ser fina, campeira de rolo, ou amarrada de par em par. Pode ser mista, de carne pura, de pernil de porco, calabresa, toscana, defumada, apimentada, curada ou fresca. Já o arroz pode ser longo fino, integral, selvagem, cateto, branco, preto e vermelho, ou então, derivado das variedades Labelle, Bluebelle e Belle Patna. Não precisa muito tempero, pois toda linguiça que se preze já vem carregada em condimentos e conservantes, bastando apenas algumas correções pontuais, porem, sempre é bom refogar uma cebolinha e um dente de alho picado antes de qualquer outra providência. Deve-se cortar a linguiça em pedaços parelhos, quase uniformes, se for da grossa, cortar com espessura equivalente a metade de seu diâmetro, se da fina, cortar com tamanho igual ao dobro do diâmetro dela. Não precisa usar régua, com algum treino a gente aprende a medir de olho. Arroz, uma xícara para cada duas pessoas é o suficiente e, dependendo da hora, até sobra. Fica muito bom quando servido com uma salsinha picada esparramada em cobertura, e, é de bom costume, regar tudo com um fino fio de azeite extra virgem antes do ataque final.

Sendo prato trivial e comezinho vai bem com o vinho do dia-a-dia, ou então com honesto vinho da casa de restaurantes mais criteriosos, um bom tinto de mesa resolve a parada, sem problemas. Existem várias opções de Cabernet Sauvignon, Merlot ou assemblages fornecidas na embalagem Bag-in-box, uma ótima solução para o serviço de vinho a copo ou em jarra. Neste caso segue-se a regra da paridade de preços: o preço do vinho deve ser igual ao preço da comida.

Outra experiência interessante é explorar a oposição de valores, contrapor o simples ao sofisticado, tentando descobrir algum sentido neste jogo, é uma provocação do gosto. Para isto precisamos de um vinho caro, muito caro, um vinho caríssimo, quanto mais caro melhor, assim, mais surprendente será o resultado.

Abri uma garrafa dessas outro dia, buscando desvendar mistérios escondidos neste casamento. Estávamos reunidos, eu, meu fogão anos 50, uma panela de ferro preta, uma tábua de cortar carne e alguns ingredientes que encontrei na geladeira. Saiu bom, nada mau. Escolhi um tinto que reservava há décadas para uma ocasião especial que acabou não acontecendo. Um corte bordalês típico, potente, corpo robusto, taninos macios, elegância madura adquirida com anos de guarda, apresentava cor ligeiramente esmaecida, anunciando uma decrepitude próxima, porem conservava complexidade, aromas profundos, persistência e muita fineza em boca. Com pulso firme, verti todo conteúdo num decanter estilo cisne de pescoço negro, que reservo para momentos de reflexão. Ficou ali repousando enquanto preparava meu jantar...

continua...

2 comentários:

mundusvinus disse...

Muito Bom!!!
Bom fim de semana para ti com muito arroz com linguiça, que delicia!!!

Walter Schumacher disse...

Muito obrigado, Mundus Vinus. Valeu!