El vino da brillantez a las campiñas, exalta los corazones, enciende las pupilas y enseña a los pies la danza. José Ortega y Gasset (1883-1955).

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

O cravo escondido

Estava terminando meu segundo prato de risoto milanês, quando senti, com muita clareza, um leve toque de cravo na boca. Comentei com minha namorada aquela minha impressão tardia.
- Impossível – disse-me ela.  Noz moscada pode ser, cravo da Índia nunca.
Foi minha sogra, a guardiã desta receita centenária, foi ela, a autora do almoço de domingo, foi ela quem me salvou, tinha cravo sim, quinze deles precisamente, mas somente a extremidade floral cortada e separada do cabo, todos finamente picados, para passarem despercebidos mesmo, o gosto resultando apenas insinuado.
Enchi meu cálice com um Chardonnay da margem direita do Rio das Antas e continuei a comer. Foi um reboliço só, todo mundo quis provar o risoto novamente, outra travessa veio da cozinha para embasar nossa conversa, e abrimos mais uma garrafa de vinho branco, outro Chardonnay, este de Farroupilha, muito bom também.
A receita tem sido transmitida de geração em geração, veio do norte da Itália escondida no fundo de um baú de madeira, no final do século XIX, passou um tempo em Buenos Aires e subiu o Rio Uruguai de barco, foi aperfeiçoada pela bisavó Cademartori na distante cidade de Itaqui de nossa fronteira oeste.
É única e inigualável, nem arrisco descrever os outros ingredientes. Leva açafrão e vinho branco, posso adiantar.

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