El vino da brillantez a las campiñas, exalta los corazones, enciende las pupilas y enseña a los pies la danza. José Ortega y Gasset (1883-1955).

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Tripas à moda do Porto

Dizem alguns que esta receita data de 1384 e que se deve ao fato de os Portuenses terem enviado toda a carne da cidade para abastecer a frota chefiada por Rui Pereira, que saiu em auxilio de Lisboa, cercada por D. João I de Castela; outros discordam, dizem que não foi bem assim, que a história verdadeira é mesmo muito diferente. Eu, tudo o que sei, é que recebi uma folha de papel manuscrita copiada do livro Cozinha Tradicional Portuguesa, uma folha dobrada e redobrada ao meio, que andava perdida entre anotações de um velho caderno de espiral. Foi por obra do finado Paulo Magalhães, um gajo nascido e criado na aldeia de Paredes de Baixo, Freguesia do Gouve, Concelho de Baião, Distrito do Porto, que acabei descobrindo esta monumental iguaria. Pois Paulo andava pesquisando novos pratos para seu restaurante, queria algo mais alem de sarrabulhos e torresmadas, e então decidiu voltar para sua terra natal em busca de uma receita original e transformadora, com sabores ancestrais. Conseguiu o que tanto procurava, reencontrou amigos, parentes, pode conversar com sua mãe que por lá ficara, mas o sacana nunca voltou para nos apresentar sua descoberta. Morreu antes, tombou fulminado por um violento e insuspeito aneurisma enquanto consertava as telhas soltas da antiga casa de sua família. Ficamos sem conhecer nem provar o resultado de sua incansável busca, e perdemos um grande amigo. Lamentável é que o tio dele, o próprio que me alcançou a receita,  que também nasceu no mesmo povoado e afirma nunca ter visto nem provado nada parecido em toda sua vida, recusa-se, terminantemente, a executar tão suculento manjar. Diz que vai dar muito trabalho, que os ingredientes são muito caros, e que no final ninguém aparece, é prejuízo na certa. Assim passou-me a tarefa de testa-la, estive dando uma olhada, estudando o modo de fazer, guarda alguma semelhança com o mocotó, o prato mais apreciado do inverno portoalegrense. Leva tripas, pata de vaca ou mão de vitela, bochecha e focinho de porco, chouriço, lingüiça campeira, toucinho, feijão branco, até aqui é parecido, recebe porem outros complementos como carne de frango, cenoura e cebolas. Lá como cá vem à mesa em terrinas de barro acompanhadas de um pratinho de salsa picada para juntar na hora. É servida com arroz branco, uma escolha muito sábia que faz baixar o choque proteico. É preparada com ramos de cominho que lhe conferem um frescor adequado.
Harmoniza com vinho tinto, naturalmente. 
Vou fazer.

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