El vino da brillantez a las campiñas, exalta los corazones, enciende las pupilas y enseña a los pies la danza. José Ortega y Gasset (1883-1955).

terça-feira, 7 de abril de 2009

Garganta con arena

"Ya vês, el dia no amanece, polaco Goyeneche
Cantame um tango más..."

Começa assim esta canção de Cacho Castaña, composição instigante e arrebatadora que harmoniza perfeitamente com alguns cálices de Malbec. Gosto de saborear um bom vinho escutando minhas músicas preferidas, e para acompanhar bastam alguns queijos, frios, salames, frutas secas, algumas fatias de pão e tempo, muito tempo. Conheço algumas interpretações desta música, uma delas do próprio autor, mas prefiro as versões femininas e penso que podemos combiná-las com estilos diferentes deste emblemático vinho argentino.

Com Adriana Varella, a mais correta seguidora do estilo de Roberto Goyeneche, casa muito bem o Luca Malbec 2006, elaborado com uvas dos melhores vinhedos da família Catena de Mendoza. É um tinto escuro, concentrado, de suave fineza e grande elegância. Tem muito corpo e um ataque maduro. Já o Tília Malbec 2006 da Bodegas Esmeralda pode acompanhar a voz de Soledad Pastorutti, é esbelto, refinado, boca aveludada como um suave terciopelo, coloração viva e brilhante, mesmo a media luz. Ano passado fiquei conhecendo a versão de Shana Muller, jovem cantora gaúcha. Foi num final de tarde, em sarau realizado no Solar dos Câmara, que fica na rua Duque de Caxias, próximo a Praça da Matriz de Porto Alegre. Não foi possível tomar nenhum vinho naquele ambiente comportado, mas de bom grado escolheria o Malbec Dom Laurindo. Já experimentei este vinho no mais completo silêncio, como nos pedem algumas garrafas e momentos de reflexão. Foram duas grandes revelações, o vinho, contrariando indicações e juízos antecipados e Shana com suas notas e ares tardios de Califórnia. Pensando melhor, foram três revelações, contando com o Sarau do Solar, que acontece todas quartas-feiras, e que retorna agora, sempre com bons músicos e nova programação.

Nina Moreno precisa de outro parágrafo, esta cantante uruguaia que, com seus respeitáveis 80 anos, atravessa as noites da cidade, cantando um repertório inesgotável de músicas latino-americanas. Veio de Montevidéu em meados da década de setenta, junto com outros músicos profissionais, buscando segurança e condições de mostrar seu trabalho. Foi proprietária de uma casa de espetáculos muito famosa naquele tempo, hoje se apresenta em palcos mais acanhados, mas nunca perdeu o estilo, e sabe cantar aquela viejita. Caminha com dificuldade, anda sempre apoiada numa bengala, mas quando arranca Garganta com Arena do fundo de sua alma, desaparecem todas as dores, o ambiente todo se transforma e, como dizem os versos de Lupiscinio, ilumina toda a sala, mais que a luz do refletor. Para acompanhá-la somente um verdadeiro Tannat uruguaio e o violão arranhado do Professor Maseratti. Difícil é encontrar este vinho por aqui, nos supermercados são poucas as marcas do país vizinho, em lojas especializadas, e mesmo nas diversas parrillas uruguaias que se espalham pela cidade, não existe nada de entusiasmar.

4 comentários:

Luciana disse...

Walter, sou a Luciana, amiga da Emma de Brasília. Esta é a segunda vez que entro no teu blog, mas hoje foi o dia em que de fato tive mais tempo de me debruçar sobre teus textos; aliás este último está muito bom. As fotos também são muito bonitas. Foi vc que tirou? Me diga uma coisa. Fiquei curiosa por ouvir estas três cantoras que vc citou. A Shana(que nome, hem?), a Adriana e viejita uruguaia. Vc tem alguns registros delas?Podias gravar um cd pra mim? A Emma traria. Ela vai ficar na minha casa da próxima vinda, que inda é neste mês. Aliás, ela fala muito de ti, e já te vi numa gravação tocando violão. Achei muito bonito. Adoro quem sabe tocar bem violão como tu sabes. Olha, só não posso falar nada dos vinhos, porque não bebo. Mas sempre dou uma cheirada, e lambo um pouco num golinho. Só isso. No mais, vc viu aquele filme chamado ESPOSAMANTE? COM o Marcelo Mastroiani e a Laura Antoneli (esta no auge de sua belez? antes de fazer a trágica plástica que a transformou num monstro... Abraços.

Alex Moraes disse...

al leer tu texto, se me vinieron unas ganas locas de tomar un buen vino acompañado por el rezongo de algún bandoneón tanguero. Creo que hoy a la noche voy al 'Porto' a tomar unas copas y capaz que le pido a 'Magallanes' (como dice Nina) que ponga un CD de música platense.

un abrazo

Muy agradable leer tu blog,

Alex.

Walter Schumacher disse...

Oi Luciana,acho que assisti Esposamante uma três vezes, principalmente por causa da Laura Antonelli e, por sorte, nunca vi nenhum registro desta terrível plástica. As fotos que aparecem no blog são minhas, tiro elas caminhando montanha acima, montanha abaixo, pelos estradas do Vale dos Vinhedos. Bom e quanto as cantoras, Emma possui uma coleção de cds da Varela, vou procurar por Shana e a Nina anda se apresentando num bar da Joaquim Nabuco, na Cidade Baixa, e posso fazer um vídeo, se ela concordar. Com a Pastorutti tem muita coisa no youtube. Agradeço teus comentários.
Abraços.

Walter Schumacher disse...

Valeu Alex, e obrigado por teus comentários. Parabens por teu espanhol, vejo que está cada vez melhor.
Grande Abraço.